terça-feira, 18 de maio de 2010

Era um dia quente de março quando Henrique adentrou pela primeira vez as portas do inferno. Um Inferno que, uma hora ou outra, ele teria de entrar de qualquer maneira, muito porém, aquela manhã abafada, aquele suor azedo, aquele sono e aquele ônibus lotado conseguiram tornar tudo muito pior.
Um tanto exitante, ele aperta o interfone pela primeira vez, e pela primeira vez escuta a voz do demônio. Ironicamente, ela é fina e anasalada:
-Quem é?
-Henrique.
-Entra ai Henrique
Ai estava. Sem porteiro, sem Cérbero o cão de três cabeças, sem cadáveres flamejantes, sem gritos dilacerados. O inferno é na verdade um modesto cômodo, no terceiro andar de um modesto prédio do Bom Fim.