sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

O dia é a morada dos currículos, dos burocratas, dos funcionários e seus reis, uma terra com objetivos definidos, salários, descontos, décimos terceiros, é uma arena de gladiadores, bilhões de gladiadores sentados lado a lado, empunhando pranchetas, preenchendo formulários de pré-seleção, carregando recortes dos classificados.
Tudo é televisionado e tem grande audiência, todos parecem gostar.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Alto, muito alto e por muitas horas. Eram seis da manhã.

Recordações da noite recém vivida latejam em minha cabeça. Disse isso, disse aquilo, tanto faz. Foco no que importa.
Eram seis da manhã quando decidi olhar para cima. Chovia, um amanhecer chuvoso no início da primavera. O céu azul marinho se assanhava por entre as árvores e os prédios.
A luz do sol nascente lutando por detrás das espessas nuvens carregadas, os pingos caindo no vidro do carro e, depois de muitas horas, finalmente pousei.
Foi um pouso muito tranqüilo, na verdade, foi um pouso muito bonito, daqueles que expressam a tua insignificância no universo, mas não de forma opressora, pelo contrário, de forma admirável.
É o tipo de sentimento que te inflama por um cáustico momento e é extremamente difícil de descrever. A sensação de que indiferente ao que tu fez ou disse nessa noite entorpecida, o dia haveria de nascer igualmente belo e azul escuro nessa manhã chuvosa, nesse início de primavera.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011



"Nós éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro. Mas está bem que seja assim, e não vamos ocultar e obscurecer isto, como se fosse motivo de vergonha. Somos dois navios que possuem, cada qual, seu objetivo e seu caminho; podemos nos cruzar e celebrar juntos uma festa, como já fizemos – e os bons navios ficaram placidamente no mesmo porto e sob o mesmo sol. Parecendo haver chegado ao seu destino e ter tido um só destino. Mas, então, a todo-poderosa força de nossa missão nos afastou novamente, em direção a mares e quadrantes diversos, e talvez nunca mais nos vejamos de novo – ou talvez nos vejamos, sim, mas sem nos reconhecermos: os diferentes mares e sóis nos modificaram! Que tenhamos de nos tornar estranhos um para o outro é da lei acima de nós: justamente por isso deve-se tornar mais sagrado o pensamento de nossa antiga amizade! Existe provavelmente uma enorme curva invisível, uma órbita estelar em que nossas tão diversas trilhas e metas estejam incluídas como pequenos trajetos – elevemo-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é muito breve e nossa vista muito fraca, para podermos ser mais que amigos no sentido dessa elevada possibilidade. – E assim vamos crer em nossa amizade estelar, ainda que tenhamos de ser inimigos na Terra".


(Nietzsche, A Gaia Ciência, aforismo 279)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Magia

Hoje fui à biblioteca da minha casa procurar por um novo livro, buscava algum título ilustre entre os milhares de clássicos dispostos de forma displicente nas prateleiras, por não mais do que um mero acaso, acabei me deparando com Harry Potter e a Pedra Filosofal, primeiro livro da tão famosa série de JK Rowling.
Passara-se 11 anos desde o dia em que o havia ganho, as páginas já amareladas e desgastadas provavam de forma incontestável que ele fora lido, relido e foliado durante incontáveis noites. Levei o exemplar aberto em direção o nariz e o cheirei, tinha cheiro de magia, não aquela descrita pela autora, mas a magia que há 11 anos eu me permitia sonhar. Passei os olhos por alguns parágrafos e me vi no ano 2000, com 11 anos de idade, deitado na cama ao lado do meu antigo abajur em forma de bola de futebol, estava absolutamente extasiado por aquele livro, completamente envolto em um universo de florestas escuras, castelos vivos e feitiços poderosos.
Lembrei-me que ele tinha uma falha de relevo na capa, passei os dedos e percebi que ela continuava ali. Na época, acreditava que aquele relevo saltado no canto direito da capa do livro representava algo, pensava que eu também receberia uma carta para ir à Hogwarts. Cheirei o tomo mais uma vez, passei-o em minha bochecha, hoje barbada, ajeitei-o carinhosamente na prateleira e continuei minha busca.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Amor é Droga Forte

Depois que tudo passa e tu já não te importa mais, não tem problema ver o que tu criou na época. A dor passa, ficam as crônicas.


Quando utilizada, a droga-amor causa grande prazer, palpitações fortes, leve taquicardia, frios na barriga e, se tiver sorte, orgasmos. Mas cuidado, a droga-amor é extremamente viciante, originando pesada dependência física e psicológica.
A droga-amor é uma das maiores causadoras de mortes no mundo, principalmente entre os jovens, então alerte seu filho para os perigos da dependência. Não existem níveis seguros para consumo deste sentimento.
A droga-amor, quando usada em demasia, pode causar mudanças na fala, alteração na dicção das palavras e, muito provavelmente, afinamento na voz masculina quando em contato com a fonte da droga, no caso em questão, a mulher amada.
Mas novamente, cuidado, esta droga é extremamente forte, e devido ao seu alto teor de viciosidade, acarreta a pior crise de abstinência conhecida pelo homem. Alguns a chamam pelo terrível nome de saudade.
Assim que se esgota a fonte da droga-amor, a chamada seca, o homem viciado se reduz a pouco mais que um verme. Não há prazer algum na perda do amor, somente dor, insônia, enjôo, ciúmes, calafrios, crises de ansiedade e cefaléia, palavra que parece algo realmente horrendo, mas significa dor de cabeça.
Por se tratar de uma substância homericamente invasiva, abusiva e prazerosa, o viciado tende a perseguir a fonte da droga até última instância, por mais que esta seja uma vadia que não vale nada. O viciado não difere caráter, ele apenas busca, cegamente, reaver o amor.
Outras drogas mais leves podem ajudar no tratamento de desintoxicação, são elas: sexo, futebol, bebida e amigos. Amigos é uma droga leve e saudável de fonte quase inesgotável, esses são pra sempre. Se persistirem os sintomas, procure um psiquiatra.
Amor, nem pensar. Mais uma campanha do grupo RBS.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Acontece

“A algumas mulheres calha o destino de recolher homens destroçados, cuidar de suas feridas, alimentá-los e protegê-los até que readquiram as forças, até que voltem a acreditar na própria capacidade de conquista e sedução. Quase sempre, as benfeitoras, as mulheres ternas e compassivas, as enfermeiras da alma, recebem em paga o abandono.”
Charles Kiefer - Nós, os que inventamos a eternidade.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Fragilidade, teu nome é mulher!

“Céu e terra! É preciso lembrar?
Ela se agarrava a ele como se seu desejo crescesse
Com o que nutria. E, contudo, um mês depois...
É melhor nem pensar. Fragilidade, teu nome é mulher!
Ó Deus! Uma fera, a quem falta o sentido da razão,
Teria chorado mais. Antes de um mês!
Antes que o sal daquelas lágrimas hipócritas.
Deixasse de abrasar seus olhos inflamados.
Ela casou. Que pressa infame,
Correr assim, com tal sofreguidão.”
Hamlet