quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Flagelo Honroso


Meu pequeno cão idoso volta e meia me passa lições de vida. Ele já soma quinze anos e, portanto, leva consigo as marcas da idade avançada, isso significa uma tosse constante, apenas três dentes na boca e catarata nos olhos, mas não pensem que o quadro é de alguma forma triste, pois ele continua extremamente fofinho e jovial.
Hoje o alimentei com uma saborosa coxinha de frango, deixei inclusive o osso da ave junto ao seu pratinho, obviamente a atração animal pelo o osso foi voraz. Acontece que, devido a pouca quantidade de dentes, o quadrúpede era incapaz de aproveitar os prazeres de sua presa, mais que isso, sua pequena boca estava levemente inflamada pelo tempo, o que fazia com que sentisse uma dor excruciante ao carregar seu osso por aí, ouvi do quarto o seu grunhido.
Tentei livrar o pequeno ser da tormenta ao privá-lo da ave, esse porém era irredutível perante seu doloroso amor, foi aí que percebi que não se pode privar um cão do seu osso, isso representa mais do que a apreensão de um brinquedo, mas a retirada da honra canina. O deixei grunhindo, sofrendo e feliz, com a altivez intacta.
Tudo isso pra dizer que existe qualquer coisa de belo em não aceitar as próprias limitações, a recusa absoluta à derrota, o nobre autoflagelo. Pra uns é mais dolorido, mas todos querem o osso.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012


Mudaram as formas de amar; não o amor. Mudaram os anos; não o tempo. Mudaram as angústias; não a dor. A humanidade se renova, mas será humana até o fim. Imortais são aqueles que ultrapassam seu contexto e alcançam o âmago imutável do ser.