Existem
duas categorias injustiçadas de poeta: os publicitários e os tradutores.
Ambos
escolheram passar a vida revirando palavras, um trabalho de artesão,
minimalista, no qual um vocábulo, uma vírgulinha maldita muda tudo. O primeiro,
o publicitário, é o anônimo criador de cartas inesquecíveis, discursos
apoteóticos e conceitos profundos, mas vende seu próprio filho por migalhas e
assiste tudo distante e em silêncio. Sem falar que ele passa pela vistoria do
mais incapaz crítico literário, o cliente.
Já
o tradutor, coitado do tradutor! Lê Dostoievski em russo e se incumbe da missão
de colocar tudo em português - diga-se de passagem, a língua mais cretina do
globo, certamente bela, mas difícil, fazida como são as coisas belas - caso
ele seja excepcional e consiga reescrever a obra, louvado seja o autor. Ninguém
se lembra do pobre tradutor, só os eruditos, que geralmente lembram
negativamente e enchem a boca ao dizer: bom mesmo é fazer como eu, ler em
russo.