Meu pequeno cão idoso volta e meia
me passa lições de vida. Ele já soma quinze anos e, portanto, leva consigo as
marcas da idade avançada, isso significa uma tosse constante, apenas três
dentes na boca e catarata nos olhos, mas não pensem que o quadro é de alguma
forma triste, pois ele continua extremamente fofinho e jovial.
Hoje o alimentei com uma saborosa
coxinha de frango, deixei inclusive o osso da ave junto ao seu pratinho, obviamente
a atração animal pelo o osso foi voraz. Acontece que, devido a pouca quantidade
de dentes, o quadrúpede era incapaz de aproveitar os prazeres de sua presa,
mais que isso, sua pequena boca estava levemente inflamada pelo tempo, o que
fazia com que sentisse uma dor excruciante ao carregar seu osso por aí, ouvi do
quarto o seu grunhido.
Tentei livrar o pequeno ser da tormenta
ao privá-lo da ave, esse porém era irredutível perante seu doloroso amor, foi
aí que percebi que não se pode privar um cão do seu osso, isso representa mais
do que a apreensão de um brinquedo, mas a retirada da honra canina. O deixei
grunhindo, sofrendo e feliz, com a altivez intacta.
Tudo isso pra dizer que existe
qualquer coisa de belo em não aceitar as próprias limitações, a recusa absoluta
à derrota, o nobre autoflagelo. Pra uns é mais dolorido, mas todos querem o
osso.
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