LONGITUDE
A distância é ave carente de
pouso.
Teço essa distância:
sinto-a como se vivesse
numa gaiola cerzida apenas por
asas.
O longínquo repercute em mim com
um sentimento contraditório:
não irei morrer porque a vida,
naturalmente, termina,
mas porque ela anseia por durar
mais.
Tenho, como o pássaro, o coração
inquieto:
não posso senão acercar-me do
ninho
e pensar que a vida é apenas um
pouso, uma pluma, um fragmento de agoras, uma mera
[farpa.
Um consolo me arrebata:
o de que um pássaro inesperado,
com seu canto sem data,
recomponha as lonjuras.
E o baraço do tempo.
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