sexta-feira, 28 de dezembro de 2012



Existem duas categorias injustiçadas de poeta: os publicitários e os tradutores.

Ambos escolheram passar a vida revirando palavras, um trabalho de artesão, minimalista, no qual um vocábulo, uma vírgulinha maldita muda tudo. O primeiro, o publicitário, é o anônimo criador de cartas inesquecíveis, discursos apoteóticos e conceitos profundos, mas vende seu próprio filho por migalhas e assiste tudo distante e em silêncio. Sem falar que ele passa pela vistoria do mais incapaz crítico literário, o cliente.

Já o tradutor, coitado do tradutor! Lê Dostoievski em russo e se incumbe da missão de colocar tudo em português - diga-se de passagem, a língua mais cretina do globo, certamente bela, mas difícil, fazida como são as coisas belas - caso ele seja excepcional e consiga reescrever a obra, louvado seja o autor. Ninguém se lembra do pobre tradutor, só os eruditos, que geralmente lembram negativamente e enchem a boca ao dizer: bom mesmo é fazer como eu, ler em russo.