sexta-feira, 13 de março de 2009


Na madrugada, sozinho, dentro do carro, é sexta feira.
Nada e nem nenhuma, pelo menos nenhuma que me interesse.
Ligo para amigos.
Nada.
Se voltar pra casa agora vou ficar triste.
Dou a volta, pego a perimetral.
Quero correr.
Na madrugada, sozinho, dentro do carro, a cento e trinta por hora.
Hoje a noite só terei os carinhos do motor.

segunda-feira, 9 de março de 2009

16 anos e uma boa dose de frustrações.

Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos grande guerra, não tivemos grande depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é a nossa vida.

Nos debatemos em busca de um propósito que nem sequer sabemos. O objetivo da nossa geração é fútil, mesquinho, é status. Geração castrada, inerte e impotente. Lutamos por dinheiro, lutamos para conseguirmos ser ao menos um escravo de gravata, cuja vida é tão vazia quando a fortuna que podemos vir a ter.

Somos as crianças da queda do muro, do fim da guerra fria, de um mundo dito livre. Não temos regimes ditatoriais, mas quase sem perceber, somos empurrados por forças muito sutis e poderosas a um cubículo qualquer em um escritório qualquer, levando uma vida burocrática em busca de um estereotipo falso no nosso mundo de falsa liberdade.

Descobrimos que não seremos heróis, que não seremos poetas, descobrimos que não temos muita saída, e que amanha temos que acordar, calar e consentir. A mente é livre, livre de mais para entrar no cubículo, mas ela está sendo moldada

quinta-feira, 5 de março de 2009

Insônia


Quando se tem insônia, nunca se está dormindo e nunca se está realmente acordado.
Já passou das três, olhar para o relógio só faz o tempo passar mais devagar, tic tac, três e dez, preciso dormir, amanha tenho que acordar, precioso renovar a carteira, preciso fazer aula de piano, preciso de uma banda, preciso de uma mulher.
Tic tac, três e vinte dois, olhar pro relógio só faz o tempo passar mais devagar, amanhã vou concertar o ar condicionado, o encontro de hoje foi ruim, ela pareceu meio esnobe, ela nem é tão gostosa assim, tic tac, três e quarenta e dois, olhar pro relógio só faz o tempo passar mais devagar, como ia ser bom se eu conseguisse dormir, vou me deitar.
Preciso parar de mexer minhas pernas, não me sinto confortável, preciso parar de pensar, só isso, preciso relaxar, vou cortar esse fluxo infinito de pensamentos, preciso conseguir dormir, sinto os olhos pesarem... tranquilizo a respiração... não acredito que vou conseguir dormir, sim, sim, vou finalmente dormir, como ia ser bom se conseguisse dormir, acho que amanhã vou no beco, não tenho me divertido muito lá ultimamente, acho que mudei, queria ficar com uma guria legal e trazer ela aqui pra casa, quero morar sozinho, quero poder andar nu em casa, quero fumar no meu quarto, tocar violão, preciso ser livre, preciso de um emprego, preciso dormir, tic tac, quatro e cinqüenta, olhar pro relógio só faz o tempo passar mais devagar, vou comer. Cinco e vinte.
Não tenho saída, vou dormir as sete da manhã de novo, vou colocar o despertador pras dez, vou dormir três horas, acordar, renovar a carteira, me inscrever no kiruv, marcar aula de piano, fazer frete, resolver minha matrícula, plhar um ensaio, queria gostar da minha faculdade, queria conseguir dormir, tic tac, seis e quarenta.
Dormi.
Dez horas da manhã.
Foda-se, vou dormir mais.
Dezesseis e trinta.