domingo, 27 de dezembro de 2009

Fingolfin

Faz muito tempo que não posto nada, resolvi então postar a história de Fingolfin, na minha opinião, o maior dentre todos os heróis da mitologia de Tolkien.

A luta contra Morgoth:




Ora, chegaram notícias a Hithlum de que Dorthonion estava perdida, os filhos de Finarfin, derrotados, e os filhos de Fëanor, expulsos de suas terras. Fingolfin então contemplou (como lhe parecia) a total destruição dos noldor, e a derrota irremediável de todas as suas casas. E, cheio de cólera e desespero, montou em Rochallor, seu cavalo magnífico, e partiu sozinho, sem que ninguém
pudesse contê-lo. Passou por Dor-nu-Fauglith como um vento em meio à poeira; e todos os que viram sua investida fugiram assustados, acreditando que o próprio Oromë chegara. Pois ele fora
dominado por uma loucura furiosa, tal que seus olhos brilhavam como os olhos dos Valar. Assim, chegou sozinho aos portões de Angband, fez soar sua trompa e golpeou mais uma vez as portas de
bronze, desafiando Morgoth a se apresentar para um combate homem a homem. E Morgoth veio.
Essa foi a última vez naquelas guerras em que ele atravessou as portas de seu reduto; e o que se diz é que não aceitou o desafio de bom grado.
Pois, embora seu poder fosse maior que tudo o que existe no mundo, ele era o único dos Valar que conhecia o medo. Agora, porém, não podia fugir ao desafio diante de seus capitães. Pois as rochas
reverberavam com a música aguda da trompa de Fingolfin, sua voz chegava clara e nítida às profundezas de Angband, e Fingolfin chamava Morgoth de covarde e de senhor de escravos. Por
isso, Morgoth veio, subindo lentamente de seu trono subterrâneo, e o ruído de seus passos era como trovões no seio da terra. E se apresentou trajando uma armadura negra.
Parou diante do Rei como uma torre, com sua coroa de ferro. E seu enorme escudo, negro sem brasão, lançava uma sombra como uma nuvem de tempestade. Fingolfin, entretanto, cintilava dentro
da sombra como uma estrela; pois sua malha era recoberta de prata, e seu escudo azul era engastado com cristais. E ele sacou sua espada Ringil, que refulgia como o gelo.
Morgoth então ergueu bem alto Grond, o Martelo do Mundo Subterrâneo, e o fez baixar como um raio. Fingolfin, porém, deu um salto para o lado, e Grond abriu um tremendo buraco na terra, de
onde jorraram fumaça e fogo. Muitas vezes Morgoth tentou esmagá-la, e a cada vez Fingolfin escapava com um salto, como o relâmpago que sai de uma nuvem escura. E fez sete ferimentos em
Morgoth; e sete vezes Morgoth deu um grito de agonia, com o que os exércitos de Angband se prostraram no chão, aflitos, e os gritos ecoaram pelas terras do norte.
Mas, por fim, o Rei se cansou, e Morgoth o empurrou para baixo com o escudo. Três vezes, Fingolfin foi esmagado até se ajoelhar, e três vezes ele se levantou portando seu escudo quebrado e
seu elmo amassado. Entretanto, a terra estava toda esburacada e rasgada ao seu redor, e ele tropeçou e caiu para trás aos pés de Morgoth. E Morgoth pôs o pé esquerdo sobre o pescoço de Fingolfin; e o peso era o de uma colina desmoronando. Contudo, num golpe final e desesperado, Fingolfin lhe cortou o pé com Ringil, e o sangue jorrou negro e fumegante, enchendo os buracos feitos por
Grond. Assim morreu Fingolfin, Rei Supremo dos noldor, o mais altivo e destemido dos Reis élficos de outrora. Os orcs não se vangloriaram desse duelo junto aos portões. Nem os elfos cantam
esse feito, pois é por demais profunda sua dor.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Escrever por escrever.



Já era madrugada quando Romero entrou naquele crépido bar do subúrbio. Ele abriu a porta, viu a fumaça, inalou o fedor, o bar estava vazio, poucas pessoas, o que precisava, estivera estranho o dia inteiro, queria ir ao fundo do poço e o encontrou.
Ele acordara diferente. A morte é tão visível quanto qualquer coisa, não se vê por medo, não se vê, pois só a vemos uma vez na vida e por período curto demais para entendê-la, mas se sente, se acorda diferente, percebe-se na pele quando os tênues laços que prendem a vida começam a se soltar e, ao desfazer do último nó, o acorde final é inconfundível. Antes de morrer nós inexoravelmente tomamos consciência disso, eis aí a maior punição divina, saber da morte e entender exatamente o que isso significa.
-Uma cerveja com wisky – disse Romero cabisbaixo.
Nesse momento, uma figura encapuzada que havia passado despercebida pela maioria dos bêbados daquele bar imundo se levantou calmamente e olhou fundo nos olhos de Romero.
-Lembra de mim? - Disse o homem com a calma de quem parece não ter nada a perder.
Sem mais delongas e com enorme agilidade, o estranho acerta um tiro certeiro no peito de seu oponente que imediatamente cai sob balcão. Já morto.
Ouve-se o som do sangue pingando no chão, o resto é silêncio. Os bêbados do subúrbio respondem ao horror com silêncio e nada mais. Em suas sub vidas regadas a vícios não há mais espaço para compaixão ou histeria, somente silêncio. Todos olham para baixo, o sangue pinga e agora se ouve os passos do homem que sai do bar com a mesma calma com que se levantara.
Tenho um corpo para me livrar, pensa o dono da espelunca de traz do balcão, mas essa noite ficará aí mesmo, amanhã te dou aos corvos.
A noite continua, os bêbados bebem, os viciados fumam crack, os travestis se prostituem, mas hoje em silêncio, o cheiro de morte ainda é novo no ar.
Distante de lá, ao leste do trevo 89, uma mulher ri e chora ao mesmo tempo, como fazem as loucas ao se depararem com trágicas ironias.
...............................
O trevo 89 era de fato um lugar tenebroso, conhecido por todos os homens de má índole em um raio de cem quilômetros, era chamado de deposito de corpos. Unia três estradas de chão batido, ao lado de um lago onde desembocava boa parte do lixo da metrópole. Gente também é lixo, pensava o burguês enquanto preparava uma boa refeição.
Longe dos olhos da opinião pública e da pseudo compaixão social, o trevo 89 era o lugar perfeito para abrigar os dejetos da colméia. O importante é o lixo sair da frente da classe A/B, não estando lá, não existe. Para um problema deixar de existir, basta que ele vire o problema dos outros.

domingo, 2 de agosto de 2009

São sete e vinte da manhã e eu ainda não dormi, o porquê de eu resolver escrever um poema, eu realmente não me lembro, mas quando - a uns 20 minutos atrás - eu resolvi que o faria, a idéia me pareceu deveras interessante, enfim, saiu essa merda. Porque eu postei? Não sei também.


Tentando penetrar surdamente no reino das palavras
Percebi também ser cego
Caído de ego ferido
Deferi palavra qualquer
Sem métrica ou sentido
Tateando no escuro
Procurei mas não achei
As palavras me barraram
A chave não encontrei
Na soleira do portal
Vi a borda de seu reino

Perene, frio e confuso

Na fronteira de suas terras
Lá vencido cai
Sob os umbrais de seu reinado
Para eu mesmo prometi
Voltaria lá um dia
E teria de entrar
Caçaria as palavras
Até as certas encontrar.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O mundo.

Seria muita pretensão e burrice de minha parte dizer que conheço o mundo, porém, após vinte anos de existência, me sinto contente ao afirmar que já me perdi tanto nos becos de Veneza quanto nas avenidas de Nova Iorque, que meus olhos já contemplaram a genialidade exposta nua em telas, que minhas mãos já tocaram tanto os muros ancestrais de minha linhagem quanto os das gigantescas fortificações de civilizações perdidas, que minhas pernas já escalaram montanhas em cujos cumes se escondem segredos, que minha boca já provou da culinária de hábeis e tão distintas mãos, vi impérios em seu apogeu, vi impérios decaídos porém ainda orgulhosos, vi impérios de outrora dos quais hoje só restam escombros, descobri que todos somos tão diferentemente iguais e mais que tudo isso, vi que ainda há muito para ver.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sonho

Estava onde sempre fico, embaixo da última barra da geral em direção a arquibancada, eram trinta do segundo tempo, 0 a 0 e o Maxi havia sido expulso injustamente. A torcida, que havia cantado muito o tempo todo, agora se via fadigada, inquieta, imóvel, assistindo a agonia do Grêmio em campo. Era tarde de mais e tarde de mais era pior do que nunca! Talvez o Cruzeiro marcasse um gol, talvez todos nos nos calássemos e furtivamente voltássemos para casa ao som das cornetas rubras, talvez.
Então de subto, eu senti, e todo o olímpico sentiu comigo, sem sombra de duvidas: uma mudança. Sentia o vento no rosto! Surgia uma luz fraca, distante, talvez um sinalizador no outro lado do estádio, e como em resposta veio de longe uma outra nota. Bumbos, bumbos, bumbos. Ecoaram com força nas encostas desgastadas do monumental. Grandes bumbos do sul, num clangor alucinado.
Àquele som, as figuras curvadas na torcida de repente se aprumaram, eram altos e orgulhosos novamente e se levantado e pulando 50 mil gritaram em uni sonoro com uma voz poderosa, mais cristalina que qualquer um já ouvira uma multidão produzir antes.
Vamos Gremio vamos
Cantamos todos com a geral
Vamos seguir a canção
Sempre em busca do mundial
Eu sou do Gremio senhor
Cantamos todos com alegria
Mesmo não sendo campeão
O sentimento não se termina
É tricolor e dalhe tricolo
Não era mais um canto de apoio, não era mais um canto de guerra, era na verdade, nada mais nada menos que uma declaração de amor, de amor pelo Grêmio e por tudo que ele nos faz sentir, era um canto de 50 mil pessoas tão diferentes que durante 90 min são tão iguais. Se ouvia todas as partes do estadio cantando com coração e já não cantávamos pra os jogadores, cantávamos uns para os outros, afinal, somos nós que verdadeiramente somos o Grêmio.
Eram trinta e cinco minutos do segundo tempo quando, embalado por dezenas de milhares de vozes e milões de corações, o Léo abandona a zaga e corre veloz por toda a lateral do campo, entra na área e, sem muito ângulo, explode um chute na quina da trave, a bola sobe e vai cair no bico da grande área, mas antes que ela alcance o chão, Tcheco a encontra e em um chute magistral, tal qual somente quem joga pela honra de uma massa é capaz de chutar e abre o placar.

segunda-feira, 15 de junho de 2009


Os judeus desempenharam um papel essencial na criação da mentalidade humana atual, seja ela judaica, cristã ou muçulmana, é quase impossível imaginar como teria sido o mundo sem o judaísmo. É fato que todos nós queremos construir Jerusalém. Todos nós nos deslocamos de volta às Cidades da Planície. Parece que o papel dos judeus é focalizar e dramatizar essas experiências comuns da humanidade, e transformar seu destino particular em uma moral universal. Porem, se os judeus detêm esse papel, quem o escreveu para eles?
Desde Abraão, o Errante; Moisés, o Legislador; Jesus, o enigmático Mestre; Maimônides, a maior das mentes medievais; Spinoza, o fundador do secularismo; Heine, o progenitor do espirito moderno; ate os gnósticos dos últimos tempos como Marx e Freud e os românticos como Disraeli e Herzl, as mulheres desde Sara e Rute a Rosa de Luxemburgo e Golda Meir, os criadores dos pensamentos, sons e imagens do século vinte, Mahler, Schoemberg, Kafka, Modigliani e Proust; e os rabinos e eruditos, os judeus da Corte, os Rotschilds e Sassoons, os mongóis de Hollywood, libertistas da Broadway, os gansters de Nova Iorque e pioneiros de Rand, os combatentes e estadistas. A verdade é que os judeus acreditaram ser um povo especial com tamanha unanimidade e paixão, e por tão longo período, que chegaram a sê-lo. Na realidade tiveram esse papel porque o escreveram para si próprios. Talvez ai esteja a chave de nossa história.

segunda-feira, 8 de junho de 2009


O sub-homem

Certa feita recebi um olhar que nunca saiu da minha cabeça, era um olhar de desprezo, um olhar raivoso, mas acima de tudo, era um olhar indiferente.
Eu fazia pré vestibular no anglo, no meu caso, não exatamente fazia, mas volta e meia aparecia lá. Eis que um dia, no intervalo, aparece um amigo meu, todo pintado, tinha passado no vestibular, pedia uns trocados, havia levado um violento trote, resolvi ajuda-lo, mas não dando moedas, pelo folclore, pela brincadeira, iria usar minha capacidade de equilibrar coisas girando para ajuda-lo na busca por trocados. Fui com ele atá a sinaleira e quando o sinal ficou vermelho comecei a girar meu caderno, enquanto isso, o pintado pedia dinheiro.
Foi quando olhei para os olhos do motorista de um dos carros que perdi o sorriso do rosto.
Era um olhar de desprezo, um olhar raivoso , mas acima de tudo, era um olhar indiferente. Aquele homem não olhou pra mim como um homem, mas como algo inferior a isso, como um empecilho no seu dia, como um buraco na estrada, os outros motoristas evitavam olhar para mim, eu era um sub homem.
Eu sempre fui altivo, ando de peito estufado, gosto de sapatos, pois fico com uma postura ainda mais imponente, me sinto muitas vezes, por mais que erradamente, no topo da pirâmide intelectual, social, porque não, alimentar, porém, durante aqueles minutos entre o sinal vermelho e o verde, fui visto como nunca havia sido antes, como um verme.
Hoje, dirigindo, quando vi um pedinte na sinaleira, olhei nos seus olhos e vi ,que mais triste do que sua pobreza, mais triste do que a sociedade que o gerou, do que a família péssima que ele teve, que seu histórico de drogas, mais triste até mesmo que a fome, era o seu olhar, o olhar de quem aceitou ser um sub homem, o olhar de quem recebe o dia inteiro, todos os dias, o olhar que tanto me marcou.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A tristeza, até certo ponto, não é só saudável, é essencial.
A verdade é que eu já escrevi muitos textos como esse aqui de baixo, alguns muito mais fortes em relação as minha angústias juvenis, mas sempre acabei por não postar, alias, eu tirei esse blog do meu perfil porque fico com vergonha de tornar tão públicos esses meus ensaios.
O fato é que, curiosamente, esse famigerado depósito on line teve mais acessos ontem que em qualquer outra ocasião, o que fez com que me sentisse como se observado nu, mas não tenho do que reclamar, eu postei.
Acho que uma das coisas mais incríveis do livro Retrato de Dorian Gray é a relação do pintor Basilio com o retrato que ele faz de Dorian. Depois de dias de meticulosa devoção, ele conclui o que julgou ser o melhor trabalho de sua vida e quando questionado a respeito da razão pela qual se recusava a expô-lo, Basilio respondeu “Senti, Dorian, que me havia expressado em demasia, que nele havia postado demasiado de mim mesmo. Foi quando resolvi não permitir jamais que o retrato fosse exposto.” É evidente que esse “expressado em demasia” de Basilio se refere à sua baitolisse e à sua devoção para com Dorian, mas eu também, assim como o pintor e grande parte da população mundial, tenho um pé atrás em expor o que julgo ser demasiado de mim mesmo.
Um adendo a respeito do texto aqui de baixo. Não é que eu esteja frustado com minha falta de banda, eu estava era frustado com a falta de perspectiva, cercado de amigos talentosos que admiro e me vendo ficar pra trás, mas como disse antes, a tristeza, até certo ponto, não é só saudável, é essencial.
Em ode à fascinante versatilidade da mente humana, o próximo texto, se é que vai existir, será alegre, afinal isso aqui não é nada mais nada menos que um depósito, onde entram risos e lágrimas.
PS.: Feliz Aniversário pequena.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Diário

Hoje meu dia começou como a maioria deles, colocando a soneca do despertador pra frente umas quatro vezes, levantando de supetão, lavando a cara, tomando café e indo pra faculdade. Tive um elucidante primeiro período com a apresentação de um trabalho sobre litogravura. Poucas coisas no mundo podem me ser tão desinteressantes quanto aquelas que me forço a ouvir na faculdade todos os dias. O segundo período foi na área dos computadores, onde, em nome do bom senso, fingi estar fazendo algo de útil para meu grupo, acabei desenhando uns lances e dando umas ideias, o pessoal gostou, sou bom nisso, fingir.
Voltei pra casa, almocei com minha família, dormi, dormi, dormi e acordei quatro horas depois. É engraçado como quando se acorda cedo e se dorme bastante à tarde, parece haver dois dias distintos em um mesmo. Enfim, era quase cinco da tarde quando acordei. Apesar do caloroso convite de um amigo para beber e comer algo, acabei ficando em casa, onde ouvi musica, coisa que não fazia com calma a tempos, estou perdendo minha aptidão musical e junto com ela se vai o meu prazer em ouvir música, antes eu à respirava, hoje já me contento em ouvi-la as vezes.
Depois de algumas horas fui jogar basquete, foi bom, adoro esse esporte tão incomum aqui, depois de bater uma bola, tomei banho no Leon e fui pro show da Dingo Bells. No show estava a galera, dentre os quais alguns integrantes da banda vice-versos ( ou seja lá qual for o nome), o que me remeteu a minha brabeza/tristeza por não ter sido convidado pra ir pra Osório com a galera, mas era só coisa pra banda, até ai eu estava bem, fumamos um, bebemos uma cerveja, troquei uma idéia com um pessoal, ouvi o show, é notável como ele fica cada vez melhor, esses rapazes são bons e a música nova, a dos jornais, pareceu incrível. Ao termino do show, não sei o que deu em mim, talvez por algum comentário do Viktor, talvez pelo cansaço, talvez pela maconha, não sei pelo que, mas eu fiquei verdadeiramente triste, triste como não ficava a tempos.
Triste porque vi o show de uma banda da qual eu não faço parte, porque também não sou da banda que viaja pra Osório pra compor, porque a banda que eu tive me expulsou depois do primeiro show, porque não sou um jovem diretor talentoso acompanhado de mulheres bonitas, triste porque eu nunca subi em um palco e fui foda, porque sou a cara na multidão, sou o cabeça, um cara bacana, um cara mediócre, triste porque não tenho orgulho do que eu faço e porque não faço nada pra mudar isso, triste porque a mulher que eu quero mora alem mar, triste porque sou raso de mais, triste porque não toco bem como queria, não canto bem como queria, não escrevo bem como queria, não desenho bem como queria, mas principalmente, porque não tenho coragem e força de vontade como queria.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Vinte anos de amor

As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vou levar as minhas mágoas
Pras águas fundas do mar
Hoje à noite namorar
Sem ter medo da saudade
E sem vontade de casar

Calça nova de riscado
Paletó de linho branco
Que até o mês passado
Lá no campo ainda era flor
Sob o meu chapéu quebrado
O sorriso ingênuo e franco
De um rapaz novo e encantado
Com vinte anos de amor



Fagner.

sexta-feira, 13 de março de 2009


Na madrugada, sozinho, dentro do carro, é sexta feira.
Nada e nem nenhuma, pelo menos nenhuma que me interesse.
Ligo para amigos.
Nada.
Se voltar pra casa agora vou ficar triste.
Dou a volta, pego a perimetral.
Quero correr.
Na madrugada, sozinho, dentro do carro, a cento e trinta por hora.
Hoje a noite só terei os carinhos do motor.

segunda-feira, 9 de março de 2009

16 anos e uma boa dose de frustrações.

Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos grande guerra, não tivemos grande depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é a nossa vida.

Nos debatemos em busca de um propósito que nem sequer sabemos. O objetivo da nossa geração é fútil, mesquinho, é status. Geração castrada, inerte e impotente. Lutamos por dinheiro, lutamos para conseguirmos ser ao menos um escravo de gravata, cuja vida é tão vazia quando a fortuna que podemos vir a ter.

Somos as crianças da queda do muro, do fim da guerra fria, de um mundo dito livre. Não temos regimes ditatoriais, mas quase sem perceber, somos empurrados por forças muito sutis e poderosas a um cubículo qualquer em um escritório qualquer, levando uma vida burocrática em busca de um estereotipo falso no nosso mundo de falsa liberdade.

Descobrimos que não seremos heróis, que não seremos poetas, descobrimos que não temos muita saída, e que amanha temos que acordar, calar e consentir. A mente é livre, livre de mais para entrar no cubículo, mas ela está sendo moldada

quinta-feira, 5 de março de 2009

Insônia


Quando se tem insônia, nunca se está dormindo e nunca se está realmente acordado.
Já passou das três, olhar para o relógio só faz o tempo passar mais devagar, tic tac, três e dez, preciso dormir, amanha tenho que acordar, precioso renovar a carteira, preciso fazer aula de piano, preciso de uma banda, preciso de uma mulher.
Tic tac, três e vinte dois, olhar pro relógio só faz o tempo passar mais devagar, amanhã vou concertar o ar condicionado, o encontro de hoje foi ruim, ela pareceu meio esnobe, ela nem é tão gostosa assim, tic tac, três e quarenta e dois, olhar pro relógio só faz o tempo passar mais devagar, como ia ser bom se eu conseguisse dormir, vou me deitar.
Preciso parar de mexer minhas pernas, não me sinto confortável, preciso parar de pensar, só isso, preciso relaxar, vou cortar esse fluxo infinito de pensamentos, preciso conseguir dormir, sinto os olhos pesarem... tranquilizo a respiração... não acredito que vou conseguir dormir, sim, sim, vou finalmente dormir, como ia ser bom se conseguisse dormir, acho que amanhã vou no beco, não tenho me divertido muito lá ultimamente, acho que mudei, queria ficar com uma guria legal e trazer ela aqui pra casa, quero morar sozinho, quero poder andar nu em casa, quero fumar no meu quarto, tocar violão, preciso ser livre, preciso de um emprego, preciso dormir, tic tac, quatro e cinqüenta, olhar pro relógio só faz o tempo passar mais devagar, vou comer. Cinco e vinte.
Não tenho saída, vou dormir as sete da manhã de novo, vou colocar o despertador pras dez, vou dormir três horas, acordar, renovar a carteira, me inscrever no kiruv, marcar aula de piano, fazer frete, resolver minha matrícula, plhar um ensaio, queria gostar da minha faculdade, queria conseguir dormir, tic tac, seis e quarenta.
Dormi.
Dez horas da manhã.
Foda-se, vou dormir mais.
Dezesseis e trinta.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A arte milenar de fazer sanduíches utilizado o micro ondas.



Há quem pense que o micro ondas banaliza o ato culinário, há quem diga ele é frio, calculista, que falta amor, envolvimento com a refeição, cuidado nos detalhes e o pior, que é só pra requentar.
Pois eu discordo terminantemente, o micro ondas é arte.
A manteiga centrada, sobreposta pelo queijo, coberto por outro frio de sua escolha, colocado no prato e mandado pra dentro do gerador de micro ondas tipo magnetron, criando assim uma fornalha à incríveis 2.45 GHz. Arte, magia, porque não; amor.
Já é de praxe para os entendidos, que o queijo sempre esteja em contato com o pão, afinal ele fica quente mais rápido que os frios, logo, para que o queijo derreta, ele precisa estar em contato direto com o alimento mais famoso do mundo, não podendo haver uma camada de peito de peru para isolar a fatia de leite velho sólido da gloriosa bola de trigo, água e sal.

J.R.R Tolkien



Dois trechos incriveis de O Senhor dos Anéis.


A chegada do capitão dos espectros do anel ao cerco de Minas Tirith:

O Cavaleiro Negro jogou para trás o capuz e todos ficaram atônitos: ele tinha uma coroa real, e mesmo assim ela não repousava sobre nenhuma cabeça visível. As labaredas rubras reluziam entre a coroa e os ombros largos e escuros protegidos pela capa. De uma boca invisível veio uma risada mortal.

- Velho tolo! - disse ele. - Velho
tolo! Esta é a minha hora. Não reconhece a morte ao deparar com ela? Morra agora e pragueje em vão! - E com essas palavras ergueu a espada, de cuja lâmina escorriam chamas.

Gandalf não se mexeu. E naquele exato momento, em algum pátio distante da Cidade, um galo cantou. Cantou num tom estridente e c
ristalino, sem se importar com feitiçaria ou guerra, apenas saudando a manhã que no céu, acima das sombras da morte, chegava com a aurora.
E como em resposta veio de longe uma outra nota. Trombetas, trombetas, trombetas. Ecoaram fracas nas encostas escuras do Mindolluin. Grandes trombetas do norte, num clangor alucinado. Rohan finalmente chegara.

......................................

A chegada das tropas de Rohan:

Depois de um tempo, o rei conduziu seus homens um pouco para o leste, até chegar a um local que ficava entre o fogo do cerco e os campos externos. Ainda não haviam sido desafiados, e ainda Théoden não dera nenhum sinal. Por fim ele parou mais uma vez. A Cidade agora estava mais próxima. Havia no ar um cheiro de fogo e uma sombra da própria morte. Os cavalos sentiam-se inquietos. O rei estava montado em Snawmana, imóvel, assistindo à agonia de Minas Tirith, como se tomado por uma angústia repentina, ou pelo terror. Parecia encolher-se sob o peso da idade. O próprio Merry se sentia como se um grande fardo de terror e dúvida houvesse caído sobre ele. Seu coração batia devagar. O tempo parecia se librar na incerteza. Haviam chegado tarde demais! Tarde demais era pior que nunca! Talvez Théoden vacilasse, talvez curvasse a cabeça e se virasse, indo embora furtivamente para se esconder nas colinas.

Então, de súbito, Merry finalmente a sentiu, sem sombra de dúvida: uma mudança. Sentia o vento no rosto! Surgia uma luz fraca. Distantes, muito além e no sul, era possível divisar nuvens como formas cinzentas e remotas, subindo, flutuando: a aurora estava atrás delas.
Mas naquele mesmo momento
houve um clarão, como se um relâmpago tivesse saltado da terra sob a Cidade. Por um cáustico momento permaneceu feito luz deslumbrante em negro e branco, com sua extremidade superior como uma agulha em faíscas; e depois, quando a escuridão se fechou mais uma vez, veio retumbando pelas colinas um grande estrondo.
Àquele som, a figura curvada do rei de repente se aprumou. Agora ele parecia alto e orgulhoso novamente; e levantando-se nos estribos gritou numa voz poderosa, mais cristalina do que qualquer um já ouvira um homem mortal produ
zir antes:

Acordem, acordem, Cavaleiros de Théoden!
Duros feitos despertam: fogo e massacre!
Quebrada será a lança, trincado será o escudo,
em dia de espada, vermelho, antes de o sol raiar!
Avante agora, avante! Avante para Gondor!

E com isso tomou uma grande corneta da mão de Guthláf, seu porta-bandeira, e produziu um clangor tão forte que a corneta se partiu em dois pedaços. E imediatamente todas as cornetas do exército se ergueram em música, e o toque das cornetas de Rohan naquela hora era como uma tempestade sobre a planície, e como um trovão nas montanhas.

Avante agora, avante! Avante para Gondor!

De repente o rei gritou para Snawmana, e o cavalo disparou. Atrás dele sua bandeira tremulava ao vento, corcel branco sobre um campo verde, mas o rei era mais veloz. Depois vieram numa carreira desabalada os cavaleiros de sua casa, mas o rei sempre se mantinha à frente. Éomer cavalgava ali, o rabo-de-cavalo branco de seu elmo solto ao vento, e a vanguarda do primeiro éored rugia como uma onda enorme que se arrebentaem espuma na praia, mas não se podia alcançar Théoden. Parecia um condenado à morte, ou então a fúria da batalha de seus antepassados corria como um fogo novo em suas veias, e ele ia montado em Snawmana como um deus antigo, talvez mesmo como Oromë, o Grande, na batalha dos Valar, quando o mundo era jovem. Seu escudo dourado estava descoberto e era surpreendente ver seu brilho como uma imagem do Sol, e a relva se incendiava verde ao redor dos pés de seu corcel. Pois a manhã chegara, a manhã e um vento do mar; a escuridão fora removida, e os exércitos de Mordor gemeram, tomados pelo terror, fugiram e morreram, pisoteados pelos cascos da ira. E então todo o exército de Rohan irrompeu numa canção, e cantando enquanto matavam, pois a alegria da batalha estava neles, e o som de sua música, que era belo e terrível, chegava até a Cidade.


Criei um blog.

Pronto, falei.