segunda-feira, 8 de junho de 2009


O sub-homem

Certa feita recebi um olhar que nunca saiu da minha cabeça, era um olhar de desprezo, um olhar raivoso, mas acima de tudo, era um olhar indiferente.
Eu fazia pré vestibular no anglo, no meu caso, não exatamente fazia, mas volta e meia aparecia lá. Eis que um dia, no intervalo, aparece um amigo meu, todo pintado, tinha passado no vestibular, pedia uns trocados, havia levado um violento trote, resolvi ajuda-lo, mas não dando moedas, pelo folclore, pela brincadeira, iria usar minha capacidade de equilibrar coisas girando para ajuda-lo na busca por trocados. Fui com ele atá a sinaleira e quando o sinal ficou vermelho comecei a girar meu caderno, enquanto isso, o pintado pedia dinheiro.
Foi quando olhei para os olhos do motorista de um dos carros que perdi o sorriso do rosto.
Era um olhar de desprezo, um olhar raivoso , mas acima de tudo, era um olhar indiferente. Aquele homem não olhou pra mim como um homem, mas como algo inferior a isso, como um empecilho no seu dia, como um buraco na estrada, os outros motoristas evitavam olhar para mim, eu era um sub homem.
Eu sempre fui altivo, ando de peito estufado, gosto de sapatos, pois fico com uma postura ainda mais imponente, me sinto muitas vezes, por mais que erradamente, no topo da pirâmide intelectual, social, porque não, alimentar, porém, durante aqueles minutos entre o sinal vermelho e o verde, fui visto como nunca havia sido antes, como um verme.
Hoje, dirigindo, quando vi um pedinte na sinaleira, olhei nos seus olhos e vi ,que mais triste do que sua pobreza, mais triste do que a sociedade que o gerou, do que a família péssima que ele teve, que seu histórico de drogas, mais triste até mesmo que a fome, era o seu olhar, o olhar de quem aceitou ser um sub homem, o olhar de quem recebe o dia inteiro, todos os dias, o olhar que tanto me marcou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário