quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Eu sempre mantenho um Word aberto no meu pc, nele escrevo tudo que vem aleatoriamente a cabeça:





Queria fazer de mim um poço de inspiração, mas não tenho como esconder o fato de que sou seco, nada sai de mim, nada. Falar sobre não conseguir falar, que original. Que profundo Henrique! Hahahahaha!


"Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas."

Sempre que leio certo autores, perco por completo a vontade de escrever. Quem sou pra querer dizer algo enquanto existe um Bauman no mundo?

Às vezes nossa mente é misteriosa e nos leva a fazer todo o tipo de aleatoriedade imaginável, basta um breve passeio pela World Wide Web para entender que nós, seres humanos, somos demasiado estranhos. A normalidade é o estado hibernal do nosso íntimo bizarro, fadado a, inevitavelmente, acordar, mesmo que por um cáustico momento. Aqueles que são incapazes de hibernar a sua loucura são exatamente aqueles a quem chamamos de loucos.
Em geral, são esses hiatos de doidice que proporcionam as melhores histórias, aquelas que ou temos vergonha e, portanto, escondemos em nosso íntimo mais obscuro, ou aquelas que adoramos contar para os amigos, em uma mesa de bar, como prova incontestável da nossa condição humana em toda sua glória e perdição.
Dada esta breve introdução, o que segue são pequenos causos que o cotidiano trouxe aos meus ouvidos. Espero ter a habilidade necessária para transpor para o papel toda a carga de tristeza, humor, peso ou leveza que neles está resguardada.
Fezes.
Fezes são polêmicas.















Caminho a esmo pelo mundo de meu quarto. Tenho a companhia de alguns imortais. Tenho cede e bebo muito. Pdfs, mp3, avi. Mas não chego a lugar nenhum.
“Começaremos a caminhar hoje e veremos o mundo e o modo como ele caminha e fala, o modo como ele realmente é. Agora quero ver tudo. E embora nada do que entrar fará parte de mim no começo, após algum tempo tudo se juntará lá dentro e se fundirá em mim. (...) Eu me agarrarei firme ao mundo algum dia.”


Bauman é muito foda.
“Em sua essência, o desejo é um impulso de destruição. E, embora de forma oblíqua, de autodestruição: o desejo é contaminado, desde o seu nascimento, pela vontade de morrer. Esse é, porém, seu segredo mais bem guardado – sobretudo de si mesmo.” Bauman, Amor Líquido.

A beleza intrínseca do nascer do sol.


Meditar no quarto
 ouvindo som alto
A cama desfeita
e o olhar da TV

Vai para longe
Encontra ou esconde
Procura ou foge
Você

Meditar no canto
Ouvindo com encanto
Todo o pensamento
Se forma

Num domingo qualquer um
Vejo o sol que entra
pela fresta  da janela
E me faz sorrir vendo
a poeira que reflete por aqui

Hoje não quero lembrar
daquilo que deixei passar
daquilo tudo que perdi
do compromisso de amanhã
hoje o sol vai me seguir


É um trabalho mental penoso discordar do mercado quanto ao teu próprio valor. Não posso deixar ele me convencer que sou inferior.  


Nada irrita mais um deprimido do que conselhos. É preciso entender que, quando adentramos nesse estado mórbido de consciência, as obviedades não nos atingem como aos demais, é que já foram ultrapassados quilômetros inacabáveis desses clichês – tu tens que te mexer, é só fazer mais coisas, acorda cedo, faz o que tu ama, faz o que te der dinheiro. Quando entramos nesse oceano solitário e apático chamado de depressão, tais conselhos soam como ecos longínquos de botes resgatando almas distantes.
O deprimido, acima de tudo, não vê nesses conselhos bem intencionados a cura para o seu estado. Numa tentativa desesperada, eu decidi observar meu passado na busca de um pouco de paz de espírito. Lembro-me dos shows que fiz, gloriosos momentos da minha breve vida. O nervosismo febril que antecede o palco, contrastando com a catarse inevitável daqueles instantes nos quais já não há para onde correr e, portanto, a única saída é se entregar por completo. Os aplausos, os bêbados e seus transes sonoros, as mulheres com tesão, o calor das luzes do palco, o suor, o som, todos os sentimentos transmitidos pelo som: alegria, ira, tristeza, amor em som.
É inegável o quanto amo a vida, mas esse amor é passional. Sentimentos, ainda mais quando se tratando de amor, tendem a anular a lógica, portanto, ainda que nostalgicamente apaixonado por alguns momentos do meu passado, a resultante da equação da minha vida é triste.
Esses shows que recordo com tanto carinho foram lindos, mas todos cover, uma cópia inferior de algo original. Quando tentei compor, vi-me impotente, além do mais, fui expulso de minha primeira banda, a Yesterdays (cover de Beatles), minha segunda, a Reis do Rodeio (cover de Kings of Leon) acabou porque cansamos de tocar a mesma coisa e não conseguimos partir para nada melhor, dois integrantes dessa mesma banda acabaram de gravar um álbum com músicas próprias e começam já a ganhar espaço. Minha terceira banda, a Os Valdaranha (banda de baile) acabou porque depois de três shows ninguém mais queria nos contratar, exceto minha mãe.
O que isso prova? Prova que até mesmo meu amor pela música foi frustrante, aliás, frustrado.
De quem é a culpa? Minha.
Por que? Porque sou incapaz. Esse é talvez o cerne da minha depressão, a constatação de que sou incapaz.
Não se pegue pensando que a constatação a respeito da minha impotência é resguardada meramente por minhas frustrações musicais, pois quando entramos no meu universo profissional, o acumulo de pequenas tragédias é ainda maior.

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