segunda-feira, 22 de outubro de 2012


Às vezes preciso escrever pra organizar as ideias.

Começo essa reflexão escrita com a intenção de esclarecer, especialmente para eu mesmo, a seguinte questão: porque sinto repulsa por Comparações Trágicas? (aquelas que apontam situações de extrema dor como meio para deslegitimizar outros questionamentos).
É possível que não encontre a resposta, restando-me apenas admitir a imaturidade, frieza, recalque ou qualquer coisa que os valha. Na verdade, se não conseguir racionalizar essa repulsa, terei de abandoná-la.
Assim, inicio a jornada com a definição do vocábulo catarse:
Catarse (ss). [Do Gr. Kátharsis]  3. Psicol/Teatr. Efeito moral e purificador da tragédia clássica, cujas situações dramáticas de extrema intensidade e violência, trazem a tona o sentimento de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou a purgação desses sentimentos.
Recorro ao dicionário pois julgo a filologia e o estudo das palavras como essenciais na compreensão do modo como entendemos o mundo, uma vez que são exatamente elas, as palavras, o berço da busca por, de certa forma e tanto quanto possível, arquetipar os sentimentos.   
O princípio das Comparações Trágicas é exatamente esse: o da catarse forçada.
Quem és tu pra questionar algo quando existe a Criança da África, os Escravos Modernos na China, os Deficientes. Agradece a Deus por não vos ter feito à semelhança nem de um, nem de outro, amém. A Comparação Trágica, no entanto, não tem resultado se não o de expurgar e exorcizar qualquer dilema através de parábolas que levam à culpa e, portanto, ao autoflagelo redentor, porém estéril. (qualquer semelhança com a culpa da cruz não é mera coincidência.)
A Comparação Trágica usa da compaixão e da empatia do homem para induzir ao consentimento de um suposto crime, o pecado de pensar e questionar a vida, e assim reduz qualquer inquietação ao supérfluo.
A empatia e a compaixão são sentimentos que surgem a partir da existência e identificação com o outro, não existe empatia sem o reconhecimento do diferente/igual no outro (não pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por ti). Já a inquietude, prefiro chamar de “insustentável leveza”, corresponde apenas ao indivíduo. Desta forma, questionar a vida e a sociedade não se opõe, em nenhuma instância, ao “compadecer-se do próximo”, confirmando a falácia da Comparação Trágica. É afinal nela que mora o verdadeiro egoísmo, uma vez que se baseia na gratidão de “ser diferente daqueles infelizes”.

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